Muitas famílias levaram suas crianças, e visto que as
Universidades Pontifícias cancelaram as aulas para permitir aos alunos
participar da audiência, a Praça estava também repleta de jovens, muitos
religiosos e religiosas estudantes na cidade.
Bento XVI chegou a bordo do papamóvel, saudando os fiéis de
todos os setores do perímetro da Praça São Pedro. O automóvel parou por alguns
instantes para pegar nos braços uma criança e beijá-la na cabeça.
Do palco montado para a ocasião, recebeu um caloroso aplauso
de todos os presentes e proferiu a catequese, a última de seu pontificado.
Agradecendo principalmente a Deus, que guia e faz crescer a Igreja, o Pontífice
quis “abraçar” a Igreja de todo o mundo, assegurando que tem consigo todos nós
em suas orações. “Estou realmente comovido e vejo a Igreja viva!” – prosseguiu.
Em seguida, disse sentir-se muito confiante de que o Evangelho purifique e
renove, levando frutos aonde quer que a comunidade o escute e receba a graça de
Deus, vivendo na caridade.
Relembrando o dia 19 de abril de quase 8 anos atrás e o tempo
passado até hoje, o Pontífice disse que o Senhor sempre lhe esteve próximo e
ele pode sentir cotidianamente sua presença:
“Foi um trecho do caminho da
Igreja que teve instantes de alegria e de luz, mas também momentos difíceis;
tempos de sol e brisas leves, em que a pesca foi abundante, e momentos em que
as águas estiveram agitadas e o vento contrário. Mas eu sempre soube que
naquele barco estava o Senhor e que o barco não era meu, nem de vocês, mas
Dele, que não o deixa naufragar. É Ele que o conduz, certamente através também
dos homens que escolhe, porque os quer. Esta foi e é uma certeza que nada pode
ofuscar. E é por isso – completou Bento XVI – que hoje meu coração está pleno
de graças a Deus, porque nunca fez faltar à Igreja e a mim o seu consolo, sua
luz e seu amor”.
O Pontífice destacou também que “um Papa nunca está sozinho
no timão do barco de Pedro, embora esta seja a sua primeira responsabilidade”:
“Nunca me senti sozinho, com a alegria e o peso do ministério
petrino. O Senhor colocou a meu lado muitas pessoas que com generosidade e amor
a Deus e à Igreja, me ajudaram, estando perto de mim”. Bento XVI citou os
cardeais, os colaboradores e todos os funcionários da Santa Sé; os irmãos bispos
e a Igreja de Roma, da qual é bispo; e naturalmente todo o povo de Deus:
“Nas visitas pastorais, nos
encontros, nas audiências, nas viagens, sempre senti muito carinho; mas eu
também quis bem a todos, sem distinção. Sempre levei vocês, todos os dias, na oração,
com o coração de pai” – disse,
estendendo também seu agradecimento aos diplomatas que representam na Santa Sé
“a grande família das Nações”, e aos jornalistas “que trabalham por uma boa
comunicação e que desempenham um serviço importante”
Na sequência dos agradecimentos, Bento XVI citou
especialmente as pessoas que de todo o mundo lhe enviaram mensagens de amizade
e orações, nas últimas semanas:
“O Papa pertence a todos e
muita gente se sente próximo a ele. Recebo cartas de Chefes de Estado, de líderes
religiosos, mas também de pessoas simples, que querem enviar-me o seu afeto,
que me escrevem como se escrevessem a um irmão, irmã, filho ou filha, com que
mantêm uma relação ‘familiar’ muito carinhosa. Viver a Igreja assim é razão de
alegria nestes tempos em que tanto se fala de declínio”.
Em seguida, ele explicou aos fiéis que nos últimos meses, à
medida que sentiu que suas forças estavam diminuindo, pediu a Deus, insistindo
com as orações, que o iluminasse para tomar a decisão mais justa para o bem da
Igreja:
“Fiz este passo na plena
consciência de sua gravidade e da novidade, mas profundamente tranquilo no
espírito. Amar a Igreja significa também ter a coragem de tomar decisões
difíceis, tendo sempre em vista o bem da Igreja e não de si próprio”.
Lembrando novamente o que sentiu no dia de sua eleição, em
2005, o Papa disse que “quem assume o ministério petrino perde a sua
privacidade; passa a pertencer sempre e totalmente a todos, a toda a Igreja. A
dimensão privada é excluída de sua vida. Eu pude perceber, e percebo
especialmente agora, que ao doar a própria vida, nós a recebemos”.
“Minha decisão não implica no
retorno à vida privada. Não terei mais viagens, audiências, conferências, etc;
mas não abandonarei a Cruz, continuarei junto ao Senhor Crucificado, de um modo
novo. No ofício da oração, permanecerei no ‘espaço’ de São Pedro. São Bento,
cujo nome adotei como Papa, será um grande exemplo para mim. Ele mostrou o
caminho para uma vida que, ativa ou passiva, pertence totalmente à obra de
Deus”.
Após quase uma hora de sua chegada na Praça, o Papa se
despediu de todos sob os aplausos da multidão, assegurando que acompanhará o
caminho da Igreja com orações e reflexões e pediu que rezemos pelos Cardeais,
chamados a um dever tão importante, e pelo novo Sucessor do Apóstolo Pedro.
Bento XVI fez resumos de sua catequese em francês, inglês, espanhol, alemão,
árabe, polonês, croata, tcheco, romeno, eslovaco e português.
(CM)
Rádio Vaticano
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